Projeto promove debate sobre cadeia produtiva da castanha-do-Brasil

19 de December de 2019

Foto: Bem Diverso

O mercado mundial da castanha movimenta cerca de US$ 430 milhões ou R$ 1,7 bilhão. A produção brasileira está em torno de 35 mil toneladas anuais. O levantamento foi apresentado no encontro "Coletivos de produtores de castanha-do-Brasil", realizado pelo projeto Bem Diverso no início de novembro, na sede do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Brasília.

A ideia do encontro foi discutir ações conjuntas para promover ainda mais o negócio da castanha. Conduzido pela pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Lúcia Wadt e pela engenheira florestal e consultora Juliana Maroccolo, o evento recebeu os maiores parceiros incentivadores das comunidades extrativistas produtoras atualmente: US Forest Service, GIZ – Cooperação Alemã, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto Ipê, Fundação Vitória Amazônica, Pacto das Águas, Imaflora Brasil, Instituto Socioambiental, Funatura e ICMbio.

"Fizemos um levantamento e entendemos como está a cadeia produtiva em cada estado, conhecemos as especificidades de cada uma e enxergamos os gargalos. Ainda é uma cadeia bastante dispersa, mas podemos melhorar: o Brasil poderia produzir 450 mil toneladas por ano e arrecadar cerca de R$ 1 trilhão com o fruto", revela Wadt, que pesquisa a castanha há quase 20 anos.

"Esse encontro divulga o nosso trabalho e o impacto que ele gera ao meio ambiente, já que, com o extrativismo da castanha, mantemos a floresta em pé e geramos renda a cerca de 400 famílias extrativistas e 65 trabalhadores diretos", conta Sandra Amud, gestora da Rede de Cooperativas e Associações de Beneficiamento Agroextrativista do Amazonas (RECABAAM), também presente no encontro. Amud é o elo entre os povos da floresta, os incentivadores da cadeira e os grandes compradores.

Tecnologia em benefício da floresta

Há dois anos o Bem Diverso e os parceiros criaram uma iniciativa bastante simples, atual e inovadora para unir, em um só lugar, cerca de 30 lideranças que representam associações, cooperativas e instituições – entre extrativistas, pesquisadores e intermediadores da castanha-do-Brasil: o aplicativo de mensagens WhatsApp. Desde então, manejo, beneficiamento e preço do produto vêm sendo discutidos democraticamente a fim de valorizar a cadeia de um modo geral.

"Essa troca tem sido um exercício importante, já que centralizamos e compartilhamos desafios entre todos. Agora estamos pontuando, junto aos apoiadores, quais os próximos passos até o projeto acabar. Mas seu legado vai se perpetuar, já que um intercâmbio inestimável foi estabelecido junto aos atores de um produto que representa o Brasil no mundo todo", explica Maroccolo.

Desde sua criação, o Bem Diverso vem incentivando a cadeia da castanha-do-Brasil por meio de capacitações feitas em campo, especialmente no Território do Alto Acre e Capixaba, em oficinas de beneficiamento nas agroindústrias locais, mudando significativamente a qualidade e as vendas do produto no Brasil e no mundo.

"A castanha-do-Brasil é uma das espécies prioritárias do Bem Diverso, sua cadeia é muito importante para a economia do bioma Amazônico, e estamos trabalhando com o manejo e fortalecimento da cadeia, que é a maneira de melhorar as condições dos extrativistas e de conservar a biodiversidade. Esse encontro é importante por juntar extrativistas, produtores e organizações que trabalham nisso. Esperamos poder avançar nessas parcerias para o próximo ano", conta o assessor técnico do Bem Diverso Fernando Moretti.

Outra iniciativa tecnológica bastante inovadora que está mudando a forma de muitos produtores gerarem renda em municípios longínquos no norte do país é o "Semear Castanha", criado pelo parceiro IEB: um conjunto de materiais que facilitam o entendimento do extrator para melhor calcular o preço de sua produção, avaliando desde a coleta até a venda.

"O aplicativo que desenvolvemos, chamado Castanhadora, é bastante simples e pode ser baixado via bluetooth, não precisa de internet", conta André Tomasi, do IEB. "Por meio da ferramenta, o extrativista pode fazer o levantamento de custos de sua produção, levando em conta gastos como gasolina, estiagem ou um veículo quebrado, por exemplo, para saber a quanto deve vender sua safra e, assim, obter lucro", explica Tomasi.

Bem Diverso

O projeto Bem Diverso é uma iniciativa da Embrapa em parceria com o PNUD, e conta com recursos Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). Com atuação em três biomas, Amazônia, Caatinga e Cerrado, tem como objetivos principais a conservação da sociobiodiversidade e o desenvolvimento econômico local nos territórios onde atua, gerando renda e trabalho para as comunidades.