Como a COVID-19 irá afetar as economias na América Latina e no Caribe?

20 de March de 2020

A epidemia* da COVID-19 é a nova forma em potencial de volatilidade e ameaça da estabilidade macroeconômica na América Latina e no Caribe. Enquanto ainda é muito cedo para entendermos completamente o impacto no crescimento econômico da China e como isso resultará na diminuição do crescimento em nossa região, o que sabemos até agora é que a COVID-19 está se espalhando de forma acelerada e causando uma ruptura no ritmo de crescimento chinês.

O vírus se espalhou para mais de 117 países, com mais de 117.335 casos confirmados*. É bem provável que o impacto no crescimento econômico da China e o preço das commodities representem um choque em nossa região.

A América Latina e o Caribe têm laços importantes com a China, as relações econômicas cresceram vertiginosamente nas décadas recentes, particularmente por meio do comércio, investimentos estrangeiros diretos e empréstimos.

O comércio com a China cresceu de U$D 12 bilhões em 2000 para U$D 306 bilhões em 2018, e o país já é o nosso segundo maior parceiro. Três anos atrás, representava nove por cento das exportações totais da América Latina e 18,4 por cento da importação total. No entanto, os números não são os mesmos em todos os países. A China, por exemplo, representa 28,1 por cento das exportações brasileiras, assim como 10,5 por cento das exportações argentinas e 32,4 por cento das exportações chilenas. Mesmo que a China importe principalmente produtos primários, como minérios e metais, produtos agrícolas e combustíveis, suas exportações consistem também em equipamentos elétricos e máquinas, produtos têxteis e químicos.

Os seis principais parceiros de comércio dos chineses na região são o Brasil, a Argentina, o Chile, o Peru, a Colômbia e a Venezuela, cujas exportações estão concentradas em quatro produtos, que representam 75 por cento das exportações da América Latina: cobre, soja, petróleo bruto e minério de ferro.

Investimentos diretos estrangeiros e empréstimos da China cresceram na última década. Entre 2005 e 2017, a China representava cinco por cento do investimento estrangeiro direto – mais de U$D 90 bilhões. De acordo com o Centro de Políticas de Diálogos Interamericano, a China emprestou mais de U$D 141 bilhões desde 2005, o que representa mais do que o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco de Desenvolvimento da América Latina juntos. A Venezuela, de longe, é quem mais recebe esses empréstimos, com um total de U$D 67,2 bilhões desde 2005, seguido do Brasil, com U$D 28,9 bilhões, Equador com U$D 18,4 bilhões e Argentina com U$D 16,9 bilhões. Mesmo que a avaliação do impacto do coronavírus dependa principalmente de como a epidemia será contida, é esperada uma diminuição no crescimento do país no primeiro trimestre e uma recuperação nos meses seguintes. Enquanto a China tinha um crescimento estimado de seis por cento para 2020, diversos analistas revisaram suas projeções para baixo, entre cinco e 4,5 por cento.

Esses choques certamente afetarão o comércio, os preços das commodities e o investimento direto estrangeiro na América Latina e no Caribe. Em termos de comércio, uma diminuição na demanda chinesa por bens e serviços terá forte impacto em países como Brasil, Chile e Peru. Argentina, Colômbia e Equador também sentirão o impacto em menor escala.

A história mostra que, na América Latina e no Caribe, a volatilidade é norma e não exceção, e que as trajetórias de desenvolvimento dos países não são lineares. A volatilidade veio à tona com a COVID-19, testando a resiliência aqui e na China e a habilidade de retornar a caminhos anteriores de desenvolvimento no menor tempo possível. Além do pânico disseminado, a COVID-19 é um chamado para a resiliência na América Latina e no Caribe.

Luis Felipe López-Calva
Diretor Regional do PNUD para a América Latina e o Caribe

*Artigo publicado originalmente em 12 de março de 2020.