Secretaria Municipal de Educação de Maceió e PNUD realizam encontro para debater educação inclusiva

27 de March de 2019

Foto: Adalberto Farias, Jangada Filmes

Maceió registrou 138 suspeitas de casos de Zika vírus (SCZ) até o início de 2019. Até então, 57 deles já foram confirmados e 14 continuam em investigação. A maioria das crianças infectadas com o SCZ na capital alagoana possui um perfil semelhante: são do sexo feminino, têm mães entre 20 e 29 anos de idade e residem nas regiões periféricas da cidade. Um dos maiores desafios da doença pelo Zika são as sequelas de ordem cognitiva, comportamental e neurológica, como é o caso da microcefalia.

Ayla, de três anos, tem microcefalia. A menina foi uma das primeiras crianças que sofreram exposição ao vírus em Maceió a começar a vida escolar na rede pública de educação, em 2017. Aluna do Centro Municipal de Educação Infantil – CMEI Maria de Fátima Melo, atualmente ela é uma das nove crianças com deficiência da escola, que atende 257 estudantes.

"Quando Ayla chegou à escola, convidamos a mãe, Flávia, para começar a participar da nossa jornada no CMEI, a fim de conhecer as necessidades da criança, como alimentação, banho e locomoção. Nas atividades pedagógicas, ela está sempre inserida com as demais crianças. O trabalho pedagógico que é feito com a turma também é feito com ela. Claro que existem algumas adaptações que precisam ser feitas, mas ela é vista como as demais crianças, cada uma na sua singularidade", conta a coordenadora pedagógica do CMEI, Aurilene Lira.

Semana da Inclusão 2019

Com o objetivo de capacitar os profissionais da educação para atender às novas demandas de necessidades especiais na rede, a Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o PNUD promovem, entre 26 e 27 de março, a segunda edição da Semana da Inclusão. O encontro prioriza a discussão de propostas e a formação pedagógica para uma educação inclusiva, com base no direito da pessoa com deficiência de ir à escola, participar, interagir e desenvolver-se.

A educadora e coordenadora do projeto Semed/PNUD, Rita Ippolito, esclarece que esse segundo seminário visa complementar a formação sobre inclusão escolar, iniciada em 2018 no âmbito do projeto de cooperação técnica entre as instituições, além de dar suporte ao trabalho que algumas escolas já estão desenvolvendo, como no caso de Ayla. Segundo Ippolito, as adversidades são enormes, pois englobam aspectos culturais, estruturais, pedagógicos e sociais.

"A maioria dos estudantes com deficiência na rede são de bairros periféricos da cidade. Os desafios se multiplicam muito mais em razão da condição socioeconômica que vivem essas famílias. Mas, sem dúvidas, o maior deles é minimizar as grandes carências de formação pedagógica de professores. Apesar das resistências, a rede de Maceió, com seus 3595 estudantes com algum tipo de deficiência, está fazendo história", afirma.

A especialista em educação inclusiva da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Márcia Pletsch conduziu aula magna abrindo a Semana da Inclusão com o painel "Os filhos da Zika chegaram na escola: E agora?". Também participam das atividades representantes do Conselho Municipal de Educação (Comed), do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), da Secretaria Municipal de Saúde, coordenadores da educação infantil e da educação especial e as coordenadoras pedagógicas dos Centros Municipais de Educação Infantil, Fúlvia Rosemberg e Maria de Fátima Melo. No dia 27, a programação segue com oficinas durante todo o dia.

De acordo com a Associação Mãe de Anjos, 21 famílias de crianças acometidas pelo Zika vírus manifestaram interesse em matricular seus filhos em um dos 59 Centros Municipais de Educação Infantil da rede. Dessas, nove crianças já estão devidamente matriculadas e frequentando a escola, segundo a coordenadoria de educação especial da Semed.

A educação de Maceió empenha-se em ser referência no que diz respeito ao tratamento para as pessoas com deficiência. Desse modo, a Semana da Inclusão se constitui em uma alternativa real de transformação de políticas públicas nas escolas, de quebra de paradigmas e de mudança de cultura. Legado que o PNUD pretende deixar para o município a partir dessa parceria iniciada em 2014.