Plataforma online ajuda agricultores familiares do Piauí a manter vendas na pandemia

29 de July de 2021

Crédito da foto: IFPI

O PNUD Brasil apoiou a criação de uma plataforma online de vendas de alimentos orgânicos da agricultura familiar no assentamento Novo Zabelê, em São Raimundo Nonato, no Piauí, o que permitiu aos produtores rurais manterem suas vendas após o início da pandemia de COVID-19.

A plataforma desenvolvida em parceria com o NEA – Núcleo de Estudos em Agroecologia do Instituto Federal do Piauí (IFPI) possibilitou ampliar os canais de comercialização da cadeia de produção, fortemente afetada pela crise econômica provocada pela pandemia.

A ferramenta também tornou possível a venda de subprodutos orgânicos, incluindo fubá, urucum em pó, farinha de mandioca, geleias e compotas, entre outros, por parte de agricultoras e agricultores da Associação das Produtoras e Produtores Agroecológicos do Semiárido Piauiense (APASPI).

“Essa demanda de ampliar os canais de comercialização dos alimentos orgânicos já existia na comunidade rural, por meio de associações que já eram organizadas”, explicou a articuladora Tatiane Leocádio Temóteo, do Núcleo de Estudos em Agroecologia.

O desenvolvimento da plataforma foi um dos 12 projetos selecionados pelo Innovation Challenge, ação do PNUD Brasil para financiar experiências e metodologias de inovação nas cadeias de produção de Piauí e Amazonas, alinhadas aos aceleradores dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nos estados.

O site foi criado por um professor do IFPI, que é programador, e a gestão da plataforma foi totalmente transferida em 2019 às dez famílias da associação que manifestaram interesse em comercializar seus produtos por meio da plataforma.

Foram beneficiadas famílias dos municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, Dom Inocêncio, São Lourenço do Piauí, Canto do Buriti e Paulistana. Alguns trabalhadores rurais fazem parte de comunidades quilombolas, especialmente no caso de Paulistana e São Raimundo Nonato. 

“O lançamento da plataforma foi em 2019, quando existia um número regular de vendas. Após o início da pandemia, houve incremento das vendas pelo site nos meses iniciais, porque os clientes estavam cientes da importância de comprar alimentos orgânicos”, disse Temóteo, lembrando que, após um pico inicial, as vendas se mantiveram, mas em patamares menos elevados.

Entre os efeitos positivos da iniciativa, está a possibilidade de os produtores rurais terem acesso direto aos clientes, sem dependerem de intermediários. “Isso gera uma rede de benefícios, não só para a agricultura familiar, que consegue escoar a produção, mas também para o consumidor, que compra um alimento de qualidade, sustentável, por um preço justo, apoiando a organização social e fortalecendo o desenvolvimento sustentável da região.”

A articuladora endossa a importância de promover e impulsionar a cadeia de produção local. “As embalagens e o combustível são comprados localmente. Além disso, o alimento orgânico é mais adequado do ponto de vista nutricional, da proteção do meio ambiente e da valorização da agricultura familiar. Traz uma rede de benefícios para toda a comunidade.”

Estratégia do PNUD

O financiamento aos projetos do Innovation Challenge parte da estratégia do PNUD baseada na importância de focar esforços em áreas com grande concentração de população vulnerável, em particular no Norte e Nordeste do Brasil, desenvolvendo projetos alinhados com os aceleradores dos ODS mapeados para a região.

Também se encaixa no objetivo da organização de desenvolver e ampliar parcerias não apenas com governos, mas também com sociedade civil, setor privado, universidades e doadores internacionais como uma forma de impulsionar iniciativas alinhadas à Agenda 2030.

“Os pequenos negócios exercem papel fundamental para a geração de renda e empregabilidade no Piauí, especialmente aqueles ligados aos produtores de base familiar, um dos setores destacados no diagnóstico do PNUD como acelerador para o desenvolvimento sustentável do estado”, afirma o coordenador do PNUD no Piauí, Maurilo Cesar de Sampaio Oliveira.

O Piauí foi escolhido para a implementação da iniciativa Innovation Challenge por seu elevado nível de concentração de pobreza e desigualdade. O estado tem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio de 0,646, classificado na posição 24 entre as 27 Unidades da Federação.

Digitalização e COVID-19

A crise social e econômica sem precedentes causada pela pandemia da COVID-19  jogou luz sobre o papel das plataformas digitais de oferecer alívio a milhões de pessoas em todo o mundo, apoiando empresas e protegendo empregos e meios de subsistência.

No ano passado, o relatório, “Dinheiro Público: Aproveitando a Digitalização para Financiar um Futuro Sustentável”, elaborado pela Força-Tarefa do Secretário-Geral da ONU para Finanças Digitais, estabelece uma ambiciosa Agenda de Ação.

A ideia central do documento é demonstrar como as plataformas digitais podem ser aproveitadas  de forma a empoderar cidadãs e cidadãos,  enquanto contribuintes, investidores e empreendedores,  para conceber uma transformação digital que melhor alinhe recursos públicos e privados às necessidades das pessoas, coletivamente expressas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Na opinião do administrador do PNUD e vice-presidente da Força-Tarefa, Achim Steiner, a pandemia da COVID-19 está  revelando o incrível potencial de impacto transformador das finanças e plataformas digitais.

“A velocidade da expansão dessas tecnologias é surpreendente, mas o progresso não é automático. Para a digitalização ser uma verdadeira força a favor dos ODS, os avanços tecnológicos devem estar combinados com políticas sólidas que empoderem cidadãs e cidadãos e permitam nosso sistema financeiro atender aos desafios urgentes de investimento que devem ser superados para construirmos um futuro melhor”, disse.