Workshop discute impulso às cadeias do mel e da pesca no Brasil

13 de December de 2021

Crédito da foto: Alejandro Reyes Barrios/ PxHere (CC)

O PNUD e o Instituto humanize realizaram dois workshops online que discutiram formas de desenvolver as cadeias do mel e da pesca no Brasil de maneira sustentável visando à geração de renda, à melhoria da qualidade de vida das populações locais e ao desenvolvimento territorial.

Na ocasião, foram apresentados dois estudos de viabilidade da cadeia de valor do mel e da pesca, produzidos em parceria entre as duas organizações. As análises observaram o potencial de competitividade de cadeias de produtos da sociobiodiversidade -–que integram uso e conservação da biodiversidade com atividades de geração de renda.

Os estudos mostraram que os produtos da sociobiodiversidade brasileira ocupam um espaço pequeno na economia formal do país, representando apenas 0,48% da produção primária nacional. Por outro lado, têm alto potencial de competitividade e de expansão.

“O PNUD já tem parceria com o humanize há alguns anos, com meta de criar impacto social, ambiental e econômico positivo em regiões de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). E as cadeias de valor locais são importantes indutoras do desenvolvimento regional, principalmente em um contexto de impactos da pandemia de COVID-19”, disse o coordenador da área de Desenvolvimento Socioeconômico Inclusivo, Cristiano Prado.

A cadeia do mel de abelha, apresentada no primeiro workshop, destaca-se nesse contexto por seu potencial de impacto econômico como renda complementar para a agricultura familiar. A meliponicultura – criação de abelhas indígenas sem ferrão –, por sua vez, valoriza espécies nativas da Mata Atlântica e Amazônia que nos últimos anos começaram a receber atenção do mercado.

Elaborado pelo consultor Johann Schneider, o “Estudo da Cadeia de Valor do Mel no Pará, Bahia e Piauí” mostrou que o Brasil é um dos países com menor consumo doméstico de mel no mundo, exportando 60% de sua produção. “Isso se explica pela falta de conhecimento. O mel é na maioria das vezes associado a remédio no Brasil, não a alimento”, disse o especialista.

Os pequenos produtores respondem por ¾ da produção de mel no Brasil, sendo que metade deles tem até 50 colmeias. “Há baixo nível de profissionalização e pouco impacto na geração de renda”, declarou, citando entre os principais desafios a necessidade de capacitação, financiamento e acesso a capital de giro.

Os três estados visitados no trabalho de campo estão em diferentes estágios de desenvolvimento da cadeia de valor do mel. Segundo o estudo, o Piauí é o mais bem estruturado, dispondo de diversas centrais cooperativas de produtores. No sul da Bahia, as iniciativas têm importante volume de produção. Já o Pará tem a cadeia menos desenvolvida.

A análise também indicou que a polinização pode ser uma oportunidade para os produtores. No mundo, 10% do PIB agrícola depende de polinização. Enquanto, nos Estados Unidos, 70% dos apicultores praticam aluguel de colmeia para polinização, no Brasil esse índice é de menos de 10%.

“Outro tema identificado é a ameaça dos agrotóxicos. No período do estudo,  de dezembro de 2018 a setembro de 2019, foram mais de 500 milhões de abelhas mortas em função de agrotóxicos”, afirmou o consultor.

O segundo workshop online tratou da cadeia da pesca artesanal que, apesar da ampla extensão da costa brasileira, tem níveis de produção estagnados nos últimos anos. Além disso, a maioria dos recursos pesqueiros de interesse econômico e os ambientes onde se encontram estão ameaçados devido à interferência humana.

A conclusão é do “Estudo da Cadeia de Valor da Pesca no Pará, Bahia e Piauí”, apresentado no workshop. Segundo a análise, a pesca artesanal está atrasada no que diz respeito às tecnologias e políticas mais adequadas aos anseios dos pescadores, que ainda enfrentam dificuldades por serem pouco considerados nos processos de tomada de decisão.

“Este estudo tem justamente o objetivo de subsidiar a tomada de decisões por parte de agentes econômicos públicos e privados interessados na melhoria da oferta e demanda da pesca artesanal”, disse o gerente de Sustentabilidade do Instituto humanize, Ana Carolina Szklo.

Por ser uma cadeia em crescente desenvolvimento, o estudo analisou formas de ampliar, inovar, valorizar e diversificar os produtos da pesca artesanal, assim como debater formas de extração e, principalmente, como desenvolvê-los de forma sustentável, com geração de renda, promoção da qualidade de vida e acesso a novos mercados.

Elaborado pelo consultor Luis Henrique de Lima, o estudo enfatizou as desigualdades de produção existentes entre a pesca artesanal e industrial nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, enquanto os pescadores artesanais respondem por 95% desses trabalhadores no mundo. “A (pesca) industrial tem muito mais poder de organização, força para reagir a crises”, declarou.

Entre as principais recomendações para enfrentar os desafios do setor estão o apoio aos pescadores artesanais por meio de sua formalização, a promoção do trabalho decente nas embarcações, o desenvolvimento da gestão e da governança na pesca, o combate à pesca ilegal, a adoção de sistemas de rastreabilidade dos peixes ameaçados de extinção, o combate ao desperdício, entre outros pontos.

O PNUD tem atuado no sentido de proteger e impulsionar a pesca artesanal no Brasil. A organização contribuiu recentemente para o desenvolvimento de um sistema tecnológico capaz de rastrear o pirarucu, um dos peixes mais tradicionais da Amazônia, pescado de forma sustentável por comunidades ribeirinhas e indígenas da Reserva Extrativista do Médio Juruá.

“O PNUD é agência da ONU focada no desenvolvimento humano e no combate à pobreza. Nesse sentido, uma das ações essenciais é o fortalecimento de cadeias produtivas, focadas em impacto socioambiental positivo. E a pesca artesanal se enquadra nisso”, concluiu Prado.